quinta-feira, 21 de maio de 2015

Carta ao longe

Arthur,

Hoje estou longe de você e assim estarei por uma semana. Desde que me separei de seu pai tenho passado por muitas transformações na vida. Há algum tempo, decidi que viajaria sozinha pela primeira vez. Não sei ao certo se foi falta de companhia, mas a verdade é que pouco busquei por alguém que topasse fazer esta viagem comigo. Essa é, certamente, a maior transformação de todas.
Quando me casei pensei que teria uma companhia para todos os momentos e, por um tempo, realmente tive. No entanto, as coisas mudaram e, entre outras coisas, fui perdendo a companhia dele e passei a frequentar os lugares somente com você - o que nem sempre era fácil ou agradável, já que você é bastante espoleta e pouco para quieto - requerendo tanta atenção que impede todo e qualquer divertimento do seu responsável.
O fim era certo e foi inevitável. É assim foi. Passado algum tempo eu já me acostumei a estar sozinha e a frequentar os lugares apenas com sua cia. Você, já faz um tempo, é meu grande companheiro em todo e qualquer evento. Apenas em grandes eventos ou para trabalhar você não está comigo.
No ano passado, eu e seu pai tiramos uma semana de férias sem você. Foi bom. Este descanso de você é sempre vigorante e importante. Este ano, resolvi manter minha semana de férias de você - o que implicou em uma semana sozinha. Esta é a sua segunda semana no ano sem minha presença, já que viajei a trabalho por uma semana em março. No entanto, aquela minha semana sem você foi uma semana cheia de tristeza e trabalho. Resolvi, então, manter minha semana de férias de você - que com minha dedicação única e exclusiva à você se tornou ainda mais importante e necessário para mim.
Minha coragem em partir sozinha pela primeira vez, para uma grande cidade, em outro país surgiu nem sei de onde. Mas o importante é que ela existiu e está presente na minha vida há alguns meses. Gostaria que você tomasse isso como exemplo em sua vida. Aqui, de longe, Desejo que tenha coragem de realizar suas vontades e seguir seu coração, como fiz ao embarcar na noite de ontem. Desejo que você seja capaz de embarcar em aviões, nas suas vontades e nos seus desejos se eles foram bons e necessários para você e seu crescimento pessoal. Desejo também que você possa ser independente, autossuficiente e feliz em suas escolhas. Que você não dependa de ninguém para viajar, para acreditar e para ser feliz.
Desejo, aqui do fundo do meu coração, que você possa sempre seguir os melhores passos que dou porque com ou sem você ao meu lado, não importa, eles são dados cheios de amor e esperança de que você possa aprender com os erros e acertos deste caminho!

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Por aqui tudo na Santa Paz, embora na correria de trabalho e da vida comum do dia a dia. Arthur melhorou muito seu comportamento. Parece outro menino. Mas tem dias que, claro, se comporta como uma criança birrenta e dá um trabalho danado.

Este final de semana foi um destes. Fez birra por tudo e para tudo. Foi melhorar no final do domingo - o que já é um avanço visto que era dia das mães e eu queria era comemorar com ele e não brigar. Como disse, no cômputo final ficamos bem.

Os dias tem passado depressa e já faz um mês que o pai dele não aparece e não manda notícias. Não liga, não pergunta, não se interessa e não aparece. Eu, que por um tempo resolvi fazer o papel da interventora e levar o menino lá, de repente, só para eles poderem ter algum contato, desisti depois que fui destratada ao levar os convites do aniversário e avisei: é a última vez que trago ele aqui. Avisei também à criança que, embora não entenda a complexidade de nossa relação e dos problemas que nos cercam, precisa saber que a mãe não fará mais o papel da motorista e da interventora da relação. Ele chorou, resmungou, mas ao que parece entendeu e leva melhor a situação do que eu, que ainda sofro com isto regularmente. Ele sequer fala do pai, não pergunta e nem reclama de saudades. Fala mais dos primos do que do pai.

Ele continua insistindo que quer a família dele de volta, mas em nenhum momento cita ou questiona sobre o filho como se a família dele fosse apenas eu. A relação que ele quer reatar é comigo e em nenhuma tentativa colocou o filho em primeiro lugar. Eu sigo tranquila e leve, certa do que fiz. Aliás, cada vez mais certa.

Semana que vem estou em férias. Dividi, desta vez, em dois períodos assim em julho poderei ficar com ele e fazer programas exclusivamente com ele. Nesta primeira quinzena, as férias são minhas. Vou curtir, descansar e pensar na vida. Me conhecer e reconhecer meus gostos, preferências e viver. Tanto que vou viajar, pela primeira vez na vida, sozinha. As pessoas não costumam acreditar muito que vou sozinha-sozinha e a pergunta mais comum é: você vai sozinha? Sozinha mesmo? Inacreditável essa coisa de não acharem que uma mulher pode ser independente assim. Quando separei, tive que responder dezenas de vezes que não tinha ninguém na parada que eu só não queria mais por N motivos. Agora, com a viagem, a pergunta se repete. Acho mesmo engraçado a situação, mas sigo meu caminho rindo da incapacidade de os outros entenderem que eu posso sim ser feliz sozinha. Que eu não preciso de alguém para ter coragem de terminar um relacionamento ou para embarcar em um avião. Quero, acima de tudo, que isto sirva de exemplo pro Arthur. Que ele possa se bastar e se completar, sempre. Que possa se conhecer e fazer o que tiver vontade na vida, sem depender de ninguém. Afinal, se eu dependesse dos outros para fazer qualquer coisa na vida, não fazia nada.

Mas isso é assunto mais de terapia do que de post. Aqui, seguimos a nossa terapia interna de reflexão e tentativa-e-erro e vamos errando e acertando os passos na nossa dança da vida.