Sou mãe e mulher, sofrendo as opressões diárias que isto me acarreta, como piadas sobre a roupa que eu uso e que tipo de vantagem quero ter com isso quando quero ir arrumada ao trabalho ou que estou querendo sofrer assédio caso vá para a rua com algo curto/provocativo; ameaça de demissão após a licença-maternidade porque mães faltam quando os filhos estão doentes; que eu continuo sendo bonita mesmo com críticas ao meu trabalho; apropriação do meu trabalho por homens; piadinhas de todos os tipos; assédio moral; violência doméstica e ameça; medo de sair sozinha nas vias públicas; etc.
São inúmeras e você, que é mulher, e você, que convive igualitariamente com uma mulher, sabe do que eu estou falando. Mas a vida, aos poucos e um tanto à força, me deu uma militância feminista de presente da qual eu não quero e não posso fugir. Então, dia a dia e pouco a pouco, vou lendo, ouvindo, vendo, conhecendo e sabendo para mudar minha vida, meu mundo e buscar pela necessária transformação da sociedade - porque sim, eu acredito, acho possível e tento fazer a minha parte.
Então, o que eu faço pra melhorar este mundo?
- Escrevi uma monografia na pós-graduação que analisa os sete primeiros anos da lei Maria da Penha e as matérias publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo para verificar se as matérias cumprem o requisito da lei, que estabelece que os veículos de comunicação devem respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família, coibir estereótipos que legitimem e exacerbem a violência doméstica e familiar a ainda prevê a difusão da lei e dos seus instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres;
- Tenho lido, ouvido, tentando entender e, acima de tudo, mudar meu comportamento e mostrar para as pessoas quais os caminhos para mudar;
- Tenho dado palestas de emponderamento e luta de equidade e gênero no trabalho;
- Tenho, acima de tudo, pensado em novas formas de militância e atuação (se alguém que ler este texto puder e quiser me indicar coletivos de gênero, agradeço imensamente).
Mas o que mais faço, diariamente, é me reinventar para educar um menino para que ele não seja machista e misógino. E, com palpiteiros de plantão e uma cultura machista vigente, é sempre um desafio.
Neste caminho, que trilho lado a lado de um menino ingênuo de cinco quase seis anos, já enfrentamos poucas e boas e, felizmente, percebo que tenho um companheiro e tanto nesta luta, que tem a língua afiada da mãe e já dá seus passos rumo à defesa da igualdade. Quer ver?
Já enfrentamos palpiteira em farmácia, quando ele tinha cerca de dois anos, que decidiu se dirigir a ele afirmando que ele não poderia escolher a chupeta rosa porque era cor de menina. ENTÃO, intervi pedindo que ele respondesse à ela, que podia sim, que não tinha cor de menino e menina. Pois se houvesse, o que faria ela, na farmácia, usando azul. (Gente, a vida é irônica e a gente precisa saber usar a inteligência nesta luta inglória pela igualdade);
Já respondemos que ele escolhe o brinquedo que quiser: rosa ou azul, de florzinha, bichinho, carrinho ou super herói, afinal não usa o pipi para brincar;
Já compramos brinquedo rosa, da Minnie, que brilha e deixamos todo mundo em volta olhando chocado com a decisão firme de comprar, sim, o rosa que ele quer;
Já fizemos o Papai Noel trazer boneca, fogãozinho e panelinha;
Já demos bronca em adulto que acha que pode dar beijo forçado em criança reforçando a cultura do estupro;
Já disse a ele que ele pode se casar ou namorar com homem ou com mulher, desde que o outro queira;
Já passamos por sem constrangimento algum por um caminho onde dois garotos se beijavam enquanto uma família tinha acabado de desviar do mesmo caminho constrangida e sem saber o que dizer a outra criança;
Já briguei com ele para que não agarrasse amigas e amigos à força;
Já consolei ele que chorava copiosamente porque um amigo não quis dar um beijo de tchau e remeti às tantas vezes que ele não quis me dar um beijo e eu respeitei, falando para ele que é preciso respeitar a vontade dos outros mesmo quando a gente quer muito;
Já incentivei ele a dar flores a homens e mulheres, sempre que assim ele desejar, assim como a demonstrar amor, carinho e afeto pelas pessoas que o rodeiam.
Nosso caminho pelo fim da cultura machista, misógina e de violência é diária, contínua, sem fim. Não é fácil, muitas vezes temos erros e tropeços, mas sigo firme no maior propósito da minha vida: educar uma pessoa para que ela entenda que todos são iguais e precisam ser respeitados igualmente.
Então, meu desejo neste oito de março é exatamente este: que possamos criar crianças livres dos estereótipos machistas, conscientes de que é preciso respeitar o outro, seu corpo e suas decisões assim como ele, o corpo dele e suas decisões devem ser sempre respeitadas desde hoje, que ele ainda é uma criança, até quando ele for um idoso.
Feliz Dia de Luta das Mulheres!