quarta-feira, 8 de março de 2017

8M

Sou mãe e mulher, sofrendo as opressões diárias que isto me acarreta, como piadas sobre a roupa que eu uso e que tipo de vantagem quero ter com isso quando quero ir arrumada ao trabalho ou que estou querendo sofrer assédio caso vá para a rua com algo curto/provocativo; ameaça de demissão após a licença-maternidade porque mães faltam quando os filhos estão doentes; que eu continuo sendo bonita mesmo com críticas ao meu trabalho; apropriação do meu trabalho por homens; piadinhas de todos os tipos; assédio moral; violência doméstica e ameça; medo de sair sozinha nas vias públicas; etc. 

São inúmeras e você, que é mulher, e você, que convive igualitariamente com uma mulher, sabe do que eu estou falando. Mas a vida, aos poucos e um tanto à força, me deu uma militância feminista de presente da qual eu não quero e não posso fugir. Então, dia a dia e pouco a pouco, vou lendo, ouvindo, vendo, conhecendo e sabendo para mudar minha vida, meu mundo e buscar pela necessária transformação da sociedade - porque sim, eu acredito, acho possível e tento fazer a minha parte.

Então, o que eu faço pra melhorar este mundo?
- Escrevi uma monografia na pós-graduação que analisa os sete primeiros anos da lei Maria da Penha e as matérias publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo para verificar se as matérias cumprem o requisito da lei, que estabelece que os veículos de comunicação devem respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família, coibir estereótipos que legitimem e exacerbem a violência doméstica e familiar a ainda prevê a difusão da lei e dos seus instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres;
- Tenho lido, ouvido, tentando entender e, acima de tudo, mudar meu comportamento e mostrar para as pessoas quais os caminhos para mudar;
- Tenho dado palestas de emponderamento e luta de equidade e gênero no trabalho;
- Tenho, acima de tudo, pensado em novas formas de militância e atuação (se alguém que ler este texto puder e quiser me indicar coletivos de gênero, agradeço imensamente).

Mas o que mais faço, diariamente, é me reinventar para educar um menino para que ele não seja machista e misógino. E, com palpiteiros de plantão e uma cultura machista vigente, é sempre um desafio.

Neste caminho, que trilho lado a lado de um menino ingênuo de cinco quase seis anos, já enfrentamos poucas e boas e, felizmente, percebo que tenho um companheiro e tanto nesta luta, que tem a língua afiada da mãe e já dá seus passos rumo à defesa da igualdade. Quer ver?

Já enfrentamos palpiteira em farmácia, quando ele tinha cerca de dois anos, que decidiu se dirigir a ele afirmando que ele não poderia escolher a chupeta rosa porque era cor de menina. ENTÃO, intervi pedindo que ele respondesse à ela, que podia sim, que não tinha cor de menino e menina. Pois se houvesse, o que faria ela, na farmácia, usando azul. (Gente, a vida é irônica e a gente precisa saber usar a inteligência nesta luta inglória pela igualdade);

Já respondemos que ele escolhe o brinquedo que quiser: rosa ou azul, de florzinha, bichinho, carrinho ou super herói, afinal não usa o pipi para brincar;

Já compramos brinquedo rosa, da Minnie, que brilha e deixamos todo mundo em volta olhando chocado com a decisão firme de comprar, sim, o rosa que ele quer;

Já fizemos o Papai Noel trazer boneca, fogãozinho e panelinha;

Já demos bronca em adulto que acha que pode dar beijo forçado em criança reforçando a cultura do estupro;

Já disse a ele que ele pode se casar ou namorar com homem ou com mulher, desde que o outro queira;

Já passamos por sem constrangimento algum por um caminho onde dois garotos se beijavam enquanto uma família tinha acabado de desviar do mesmo caminho constrangida e sem saber o que dizer a outra criança;

Já briguei com ele para que não agarrasse amigas e amigos à força;

Já consolei ele que chorava copiosamente porque um amigo não quis dar um beijo de tchau e remeti às tantas vezes que ele não quis me dar um beijo e eu respeitei, falando para ele que é preciso respeitar a vontade dos outros mesmo quando a gente quer muito;

Já incentivei ele a dar flores a homens e mulheres, sempre que assim ele desejar, assim como a demonstrar amor, carinho e afeto pelas pessoas que o rodeiam.

Nosso caminho pelo fim da cultura machista, misógina e de violência é diária, contínua, sem fim. Não é fácil, muitas vezes temos erros e tropeços, mas sigo firme no maior propósito da minha vida: educar uma pessoa para que ela entenda que todos são iguais e precisam ser respeitados igualmente. 

Então, meu desejo neste oito de março é exatamente este: que possamos criar crianças livres dos estereótipos machistas, conscientes de que é preciso respeitar o outro, seu corpo e suas decisões assim como ele, o corpo dele e suas decisões devem ser sempre respeitadas desde hoje, que ele ainda é uma criança, até quando ele for um idoso. 

Feliz Dia de Luta das Mulheres!


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Fundamental 1

E lá foi ele para o primeiro dia de aula do primeiro ano. Animado, feliz, crescido. Onde será que foi parar meu bebê? Enquanto ele ficava animado e contente na escola, eu entrava no carro morrendo de vontade de chorar. É lindo vê-los crescendo, mas dá uma tristeza danada.

Aos poucos, no dia a dia, a gente percebe que os trejeitos de criança e muleque vão ganhando corpo e forma. Ganha gíria, novo gingado, um novo jeito de falar, brincar e se expressar. E aí, não leva seus paninhos e mantas pra escola porque "óbvio, mãe. Eu to no primeiro ano."

E a gente vai vendo e percebendo como eles crescem e soltam com facilidade da mão da gente. De como eles conseguem se articular, conversar e se virar em um território que é deles e, ao mesmo tempo, é novo.

Enquanto o mundo dele se amplia, o meu esvazia e vai ficando mais distante. E, ao mesmo tempo que é uma delícia vê-lo caminhar com segurança, é um novo desafio que se desenha para mim.

Em um misto de alegria, euforia, amor e tristeza seguimos trilhando esta nova etapa, que deve ser de muitas descobertas e alegrias.

terça-feira, 19 de julho de 2016

De ressaca

Quem nunca tomou um porre e ficou de ressaca que atire a primeira pedra! Quem nunca disse que nunca mais ia beber no dia seguinte? Quem nunca sentiu arrependimento e achou que ia morrer depois de uma grande esbórnia? Mas aí os dias passam, a ressaca passa e, quando menos se espera, estamos lá de novo bebendo, na esbórnia e sofrendo tudo de novo...

Mas e quando a ressaca é de outro tipo?

Vira e mexe fico com uma sensação igual a da ressaca da bebida, mas é uma ressaca de responsabilidade. Em vez de sentir o gosto de cabo de guarda-chuva na boca, eu sinto mesmo é o peso do mundo. Quem me dera que a esbórnia de ontem tivesse sido a base de bebida, festa e muita diversão. Minhas ressacas, a tempos, tem sido extremamente opostas: cheia de responsabilidade, uma criança para criar e a falta daquela ajuda que deveria existir e não existe em nenhum sentido: nem físico, nem financeiro, nem espiritual, nem moral.

Então, eu vou lá, faço e aconteço, dou conta do recado e, depois, fico sentindo o peso do mundo. 

Ontem foram 7 horas em um pronto socorro infantil, com criança com soro e medicamento na veia, um show de manha que me tira do sério, uma pequena fortuna paga no estacionamento, um dia inteiro sem comer praticamente nada (até às 18h tinha sido uma xícara de café com leite antes de começar uma reunião no trabalho, quando veio a refeição dele me deram um lanche de alho poró e ainda comi parte da comida dele, que ele se recusava a comer). 

Chegando em casa, vem uma a ressaca do mundo, de ser mãe, de não ter apoio algum, de estar sozinha, de não ter forças nem pra comer e se jogar na cama que já é tarde e eu só quero esquecer. E a ressaca do mundo dura um ou dois dias depois de tamanha responsabilidade. É sempre assim. Em ciclos. Eu só não posso prometer não repetir a dose porque não posso me ausentar da responsabilidade. Mas aí, quando menos se espera a gente esquece que é tão difícil assim, se acostuma com uma dificuldade ou outra e vai vivendo até que acontece de novo e eu me pego sofrendo tudo de novo...

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Um menino aprendendo a escrever

Fui a uma reunião na escola que contava sobre os progressos das crianças. Contava que alguns estavam pré-silábicos, uns silábicos com valor sonoro e um que já sabia escrever.

A mãe, jornalista e que ama ler, pirou. Ver meu filho ler, escrever e aprendendo tudo isso sempre foi minha maior vontade e minha maior expectativa em tudo isso. Pois bem. Apesar disso, sei que tenho um menino super numérico - para desespero da mãe que odeia matemática e números e quase enlouquece com ele que conta tudo, sempre, o tempo todo, sem descanso (vou fazer um post só sobre isso, prometo).

Pois bem. Reunião acabada e aquilo ficou ali latejando dentro de mim. Uns dias depois, viajamos para a praia. Lá, na brinquedoteca, tem uma lousa e ele estava brincando nela quando lancei o desafio: Arthur, vamos escrever uma palavra? Ele rapidamente aceitou o desafio e pensei em uma palavra que eles tinham tentado escrever na escola: elefante.

E então, ele começou a pronunciar cada sílaba e escreveu (aí na foto) E L F A T. A mãe, louca, já saiu fotografando, postando e se emocionando. Tem alegria maior? Como uma leiga total (pré-silábico ou silábico com valor sonoro até então não tinham diferença e eu nem sabia o que era, na verdade ainda não sei apenas deduzo) sai falando que ele estava pré-silábico. E em questão de minutos a professora me chamou no Messenger e avisou que não, que ele estava silábico com valor sonoro. E elogiou o empenho, interesse e dedicação do meu menino. Se quase chorei? Óbvio!

O fato é que em abril ele estava aí nesta situação (mãe atrasada, me representa!) e me encheu de felicidade e orgulho. Dói um tanto ver eles crescerem, mas também é uma alegria tão grande que nem sei o quê compensa o quê.

Em tempo, segue definições que encontrei:
  • Pré-silábica, sem variações quantitativas ou qualitativas dentro da palavra e entre as palavras. O aluno diferencia desenhos (que não podem ser lidos) de “escritos” (que podem ser lidos), mesmo que sejam compostos por grafismos, símbolos ou letras. A leitura que realiza do escrito é sempre global, com o dedo deslizando por todo o registro escrito.
  • Silábica com valor sonoro convencional. Cada letra corresponde a uma sílaba falada e o que se escreve tem correspondência com o som convencional daquela sílaba, em geral representada pela vogal, mas não exclusivamente. A leitura é silabada.
Fonte: Nova Escola

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A fono e as palavras

Desde o ano passado que tenho sentido e percebido a dificuldade que o Arthur tem para pronunciar corretamente alguns fonemas: BR, TR, CL, BL, G ou J, X ou CH e assim vai.

Então, foneticamente, ele costuma falar:
Blusa - busa
Trabalho - tabalho
Giz - Ziz
Janela - Zanela
Xixi - sisi
Chorar - sorei

Entre outros fonemas. Esperei, no entanto, até a largada da chupeta (que acabou gerando ele chupando dedo) para ver se os fonemas "apareciam". O r, na verdade, até apareceu e se acentuou e melhorou nas pronúncias em que ele está isolado (como no próprio nome dele, por exemplo Arthur e outras palavras similares, mas não em todas já que em Arara a pronúncia não está boa e eu não sei explicar porquê).

Mas com o início da soletração e escrita, que ainda acontece de forma lúdica, intuitiva e sem obrigações e cobranças, achei que era a hora de investir (literalmente) em um tratamento. Primeiro, conversei com a pediatra que pediu para ele repetir uma frase (agora já nem lembrou qual) e concordou com o encaminhamento.

Depois, busquei indicações e fui visitar a primeira fonoaudióloga. De cara, eu gostei dela e, principalmente, Arthur. Então, nem fui buscar mais mesmo que tenha que pagá-la e pedir burocraticamente pelo reembolso da consulta ao plano de saúde. Afinal, o principal era que ele gostasse e se sentisse à vontade com ela para fazer bem as sessões e depois ter paciência para fazer os exercícios diários em casa. E, por enquanto, tem dado super certo.

A primeira semana, ela focou no X e CH e em uma semana ele começou a falar corretamente. Aliás, só de fazer os exercícios do X e CH ele conseguiu corrigir o G e J que trocava pelo Z. Eu fiquei feliz. A fono também. Ele, orgulhoso.

Quase toda semana, vem elogio da facilidade em que ele tem para aprender. O fonema do R surpreendeu a fono, já que a maioria das crianças aprendem o fonema em um mês e ele conseguiu em uma semana. A fono, inclusive, já me aconselhou que ele fosse para uma escola bilingue já que ele tem tanta facilidade em aprender. Eu ainda resisto por não ser uma realidade próxima a nós e, por enquanto, desnecessária. Claro que se financeiramente falando fosse viável, talvez eu aproveitasse a facilidade que ele tem.

Já passamos também pelo fonema BR e agora estamos no CR. Semana que vem, ela me disse que vai misturar os dois. E seguimos. Achei que tanto o BR como o CR ainda encontram dificuldades na pronúncia, mas a fono está otimista com os progressos.

Minha esperança é que em seis meses ele esteja totalmente articulado e esteja ainda mais pronto e preparado para começar a escrever. Enquanto isso, vejo meu filho se empenhar visivelmente nos exercícios e nas "tarefas" da fono que buscam reforçar o aprendizado e o exercício correto da pronúncia.

Afinal, nada mais emocionante do que vê-lo assim crescido e crescendo.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Das novidades



Quase todos os dias eu penso em escrever aqui, mas adio por todos os motivos: muito trabalho, pouca inspiração, falta de tempo para escrever e quando sobra tempo, somem os assuntos. Tá difícil conciliar sim.

Há mais de uma semana de férias também ainda não tive tempo de escrever. Vontade teve, mas fui deixando pra lá. 

Assunto tem de monte, quer ver?
- a criança fez cinco anos
- ele está indo a fono
- ele está começando a escrever
- ele conta números como se não houvesse amanhã 
- ele está cada vez mais incrível, mas agora deu pra gritar muito

Quem sabe escrevendo aqui uma lista de assuntos e temas não animo voltar antes do ano acabar? Hehehe

Estamos seguindo a vida e vivendo. Com os percalços existentes, com as coisas boas e as más. Ele está incrivelmente feliz em ter feito 5 anos! Adora sair por aí contando a idade como se fosse uma grande vantagem ou uma grande coisa. Chega ser engraçado a inocência dele! Ao mesmo tempo, é espantoso ver como passou rápido. 

Encher a mão de anos, completar cinco anos. Sempre achei um marco. É assim tem sido para mim e para ele. Segue, abaixo, texto que dediquei a ele no dia via Facebook:

Hoje ele faz cinco anos. Meu incrível Arthur! Espirituoso, divertido, engraçado, nervoso, intempestuoso, amoroso, carinhoso, inteligente. Ele é uma verdadeira figura. O grande amor da minha vida.

O que desejar a um filho se não todos os clichês do mundo? 

Quero que ele seja feliz, amado, solidário. Que seja respeitado e também saiba respeitar os outros, os animais e a natureza. Que ame e seja amado. Que saiba ser intenso (e ele já sabe) e, ao mesmo tempo, saiba levar a vida com leveza. Que não leve tudo sempre tão a sério, mas que saiba o momento adequado das brincadeiras. Que saiba sempre sorrir e entenda que chorar, muitas vezes, é necessário e não há vergonha nenhuma nisso. Que saiba pedir desculpas e que também é necessário saber perdoar.

Desejo que tenha muitos amigos, muitos amores, colha muitas flores, tome banhos de chuva, de mar, de rio, de piscina. Que distribua amor por onde passar, que seja compreensivo, caridoso, generoso.

Espero que ao errar, aprenda e quando quiser muito alguma coisa, lute por isso.

Desejo o mundo inteiro de coisas boas e que você seja do bem porque assim a vida traz de volta tudo o que você fizer.

Amo você meu filho, meu mundo, meu amor.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Ensinando algo entre respeito e tolerância



Sempre que estou animada, cantando animadamente ou cantarolando Arthur se mostra terrivelmente rebelde, bravo e irritado. Não sei se é uma espécie de contradição em que toda vez que estou de bem com a vida ou toca música boa no rádio que me empolga meu filho está (coincidentemente) de mau humor, cansado ou bravo ou se ele quer mesmo me tolher. Só sei que ontem conversamos muito sério sobre isso.

Estávamos voltando para casa e já passava das 21h. Fazia pouco tempo que ele tinha acordado do sono da tarde (que foi fora de hora já pelas 18h - essas férias me matam) e geralmente este (o acordar) é realmente um momento de muito mau-humor dele.

No rádio estava tocando Tá Combinado da Gal Costa e eu cantava animadamente no caminho de casa. Chegamos na garagem, parei o carro e fiquei esperando a música terminar. Quando chegamos, a música já estava no final. Como eu sei que ele sempre fica bravo quando quero terminar de ouvir uma música, estava fazendo o procedimento de pegar as coisas e sair do carro de forma lenta para que desse tempo da música terminar sem que ele se irritasse mais e nem percebesse minha lenga-lenga. 

Eis que ele começou a se incomodar e a me pedir para parar de cantar, se irritando cada vez mais porque eu continuava cantando e ouvindo a música: 
- Para mãe. Para! Você não pode cantar! Grrrr. resmungava meu pequeno zangado.

Para piorar, na sequência, começou outra música boa. Não lembro qual, mas era uma do Legião Urbana. Mas como ele já estava irritado e bravo e me pedindo para parar (e eu nem dando ouvido e ignorando mesmo), eu desliguei o rádio, saímos do carro e continuei cantando a música do Legião. Enquanto ele descia do carro, eu pegava as coisas no porta-malas. Ele, bravo, bateu a porta do carro com força para chamar atenção e se vingar da minha mal-criação.

Eis que comecei a conversar. Disse que eu estava cantando e questionei o problema. Ele, bravo e entredentes, só me dizia que não queria que eu cantasse porque ele não gostava. Então, comecei a dizer que eu gostava, que ele tinha que aprender a respeitar os outros, o gosto dos outros, a vontade dos outros. E então coloquei de forma clara e objetiva uma cena hipotética de nosso cotidiano:

- Arthur, já pensou se quando você ficasse me perguntando dos números ou contando eu me irritasse e dissesse para você parar que eu não ia mais te ajudar? Eu também não gosto dos números, mas toda vez que você me pergunta, eu te ajudo. Eu não gosto, mas respeito e tolero que você goste e queira saber, então eu te ajudo. Então, eu gosto de cantar e quero que você entenda e respeite isto. Quando eu quiser cantar, eu vou cantar uma música legal. E quando você quiser contar, você vai contar e eu vou te ajudar. Assim, quando eu cantar eu fico feliz. E quando você contar, você também vai ficar feliz. Eu vou te respeitar e te ajudar e você vai me entender e me respeitar. Estamos combinado?

Foi algo assim. Didático. Em um exercício claro de alteridade (acho que eles são sempre os melhores. Colocar-se no lugar de outro é realmente algo prático e de fácil entendimento).

Espero, apenas, que tenha funcionado. E assim seguimos tentando ensinar, tentando aprender, tentando mudar, tentando acertar.


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Por um 2016 sem chupeta e sem mamadeira - parte 2

Mesmo tendo entregue a chupeta, seguíamos com a mamadeira. E eu, esperando o momento exato para tirar.

Apenas 3 dias depois da entrega da chupeta, estávamos novamente na estrada para aproveitar o recesso. Fomos para a praia.

Eis que dia 31 pela manhã, lavava a mamadeira quando o bico estragou completamente. O bico era novo, mas mesmo assim rasgou. No momento, assustei e, ao mesmo tempo, vi a oportunidade em tirar a mamadeira dele. Ele me esperava na sala e avisei: - Iii Arthur, a mamadeira quebrou. Estragou o bico, olha! Mostrei a ele a prova cabal de que não ia ter mamadeira aquele dia, naquela hora.

Ele, como sempre rápido, rebateu: - Então eu nunca mais vou ter mamadeira?!

Pronto! Resolvido. Concordei, meio sem jeito e já ofereci o leite com chocolate na caneca - como ele tinha tomado na casa de um amigo, uns dias antes.

Ele aceitou e quando coloquei a caneca na mesa, uma das garrafas de água tinha um canudo e para fazer uma graça ainda ofereci o canudo, proposta que ele acolheu bem.

Ali estava minha jogada de mestre. Leite na caneca com canudo. Acabou a mamadeira.

Sabia que ia ser mais fácil e rápido, só não imaginava o quanto.

De volta a São Paulo, ainda vimos em uma loja um destes copos com canudo e trava e ele gostou e me pediu. Eu, para incentivar a transição e toda esta mudança, na mesma hora topei comprar para ele.

Ele ainda continua chupando o dedo para dormir, mas nunca mais pediu chupeta ou mamadeira. E assim seguimos. E eu torcendo para ele desistir logo dessa história de chupar dedo. Mas vamos que vamos. Para o próximo desafio porque na vida materna, a próxima fase é sempre mais difícil.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Por um 2016 sem chupeta e sem mamadeira - parte 1

Ao final de 2014, ele chegou a entregar a chupeta para o Papai Noel. Foi uma ação espontânea que me chocou até. Estávamos passando pela nossa fase difícil de entender, superar e seguir após minha separação do pai dele. Um momento, que eu já sabia, que ia durar ainda um tempo. Por isso, de cara, não só me espantei como tive medo. Na hora da entrega, não impedi, não falei, não fiz nada. Simplesmente deixei.

Cerca de uma hora e meia depois ele queria a chupeta de volta. Como ele tinha colocado em uma caixa de entrega de chupetas no shopping, não tinha como pegar de volta. Mas propus comprar uma nova, igual, como ele pedia. Sabia que aquele era um dos meus momentos com ele que eu - e ele - devíamos dar um passo para trás. Já tínhamos feito isso antes. Faremos sempre que for necessário. Compramos outra que, agora, eu já nem lembro mais se foi igual-igual como ele queria.

Saímos ilesos de 2015, mas não foi fácil para ele. Aos poucos, se adaptou. Ao mesmo tempo, se apegou ainda mais à chupeta e à mamadeira. Passou a usar com muita frequência a chupeta e a mamadeira deixou de ter vergonha de tomar com os outros. Desde um ano e meio de idade, ele não tomava mamadeira se não fosse comigo ou com a avó, em casa (na minha ou na dela). Passou a pedir mamadeira em lugares inusitados (durante passeios ou na casa de outras pessoas), mas eu não carregava mais mamadeira. Foi dormir na casa de 2 amigos e, ambas as vezes, levou a mamadeira e tomou sem problemas. Além disso, a chupeta me incomodava (sempre me incomodou, nunca gostei, sempre tive nojo desde bebê) porque atrapalhava a fala, estava alterando a arcada dentária visivelmente. Eu sabia que era hora de tirar. Mas como? Mas quando? Sempre que se falava no assunto, ele fugia.

Claro que o Papai Noel é sempre uma boa alternativa e opção. Só não sabia se teria tempo hábil de convencê-lo. Até a escola, na última reunião do ano, pediu e incentivou a retirada dos dois. Como passei a pensar seriamente na questão já bem no final do ano, trabalhava até com a hipótese de tirar no aniversário (que já era uma coisa que a gente falava) ou quando o primo nascer (que deve ser bem depois do aniversário e a gente aproveitava a animação com o nascimento do primo). Mas resolvi tentar o Papai Noel. A princípio, a ideia era colocar a chupeta em uma caixa amarela, como ele pediu. Mas como meu pai contratou um Papai Noel para a noite de Natal, eu achei que seria perfeito.

Ele adora Papai Noel. Acredita super. Com o papai noel "em pessoa" descartei até a caixa. Falamos sobre o assunto algumas vezes e, quando ele chegou, incentivei a entrega. Ele não resistiu e entregou no ato. Eu chorei. Coração de mãe sofre. Fiquei ali, olhando, chorando e sofrendo escondida enquanto meu menino dava um grande passo (e só de escrever e lembrar eu já choro de novo).

Ganhou presentes, cobrou outro da sua lista de pedidos e o Papai Noel avisou que os outros estavam na casa da Vovó. Brincamos até tarde. Um tio quase da mesma idade. Uma infinidade de presente espalhado, enfim...

Na hora de ir para a cama cometi um erro estratégico. Avisei "de surpresa" que o Papai Noel também tinha levado a mamadeira. Calculei que ele iria levar numa boa. Mas a notícia, que não tinha sido combinada previamente e nem conversada, caiu como uma bomba. Ele chorou, brigou, esperneou, deu o maior piti porque faltava o tutu (a chupeta) e o tetê (a mamadeira). Ele me acusava dizendo que só entregou a chupeta porque eu pedi (e a mãe sofria ainda mais com a tal guardada no bolso porque tinha sido devolvida pelo Papai Noel às escondidas depois da entrega).

Ele, bravo, não me deixava chegar perto e acalmar. A Tia também tentou, conversou, quis convencer e, aos poucos, ele foi acalmando. Ela disse a ele que o Papai Noel tinha levado a chupeta dele para outra criança, que era muito pobre, não tinha chupeta, etc e tal.

Dei mais um passo atrás. Devolvi a mamadeira. Achei injusto não ter combinado e fazer. Foi uma tentativa fracassada e já passava da uma hora da madrugada, não ia insistir. Voltei para a sala com a mamadeira feita e avisei que achei a mamadeira caída no gramado, que o Papai Noel deixou cair. Ele baixou a guarda e se acalmou. Tomou, deixou eu me aproximar para acalmá-lo. Conversamos e, então, levei ele para a cama com a promessa de que, depois, tentaríamos procurar o Papai Noel.

Na manhã seguinte, ele pediu pela chupeta e que procurássemos o Papai Noel para pegar a chupeta. Desconversei, mudei de assunto. Não queria mais prolongar aquilo. Quase chegando em casa, ele mais uma vez falou da chupeta. Por sorte, do outro lado da rua, havia uma família na calçada morando com uma criança bem pequena. Aí, mostrei a ele, e disse que o Papai Noel tinha levado a chupeta dele para uma criança como aquela, que morava na rua, que não tinha dinheiro para ter uma casa ou para comprar uma chupeta e que ela precisava muito. Ele se acalmou. E ficamos bem. 

Na verdade, quando ele está com sono, ele tem colocado o dedo na boca e chupado. Não gosto, mas acredito que seja transitório. Até hoje, ele só pediu pela chupeta mais um dia (perto do ano novo), mas conversamos e ficou por isso mesmo. Ele diz que o dedo é a nova chupeta dele - é, juro! -, mas como ele não tem o hábito, ele não fica com o dedo muito tempo na boca. Mais para pegar no sono. Neste caso, preferiria a chupeta, mas não quero voltar atrás. Só sei que assim seguimos.

O post já ficou muito grande. No próximo, conto como foi o caso da mamadeira. Afinal, sabia que depois a chupeta, seria uma questão de (pouco) tempo até ele largar a mamadeira.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Novas decisões

Então, o tempo passou. 1 ano de separada se foi. Se no início de outubro eu queria escrever sobre o tema, desabafar, colocar para fora, no final do outubro - quando completou boda do meu pedido de divórcio - eu desencanei e nem queria mais tratar do assunto e assim foi. Deixei o assunto ir embora.

Aos poucos, meu menino tem se acostumado. Diminuiu de falar e perguntar do pai, de relatar os fatos, de questionar a situação. O pai continua ausente e eu continuo sendo a responsável por manter o contato entre os dois. Até hoje, sempre que ele pergunta do pai ou pede por ele, incentivo que ligue, que fale, que converse, que tente uma aproximação. Até abril levei ele na casa do pai apesar de tudo, depois - ao ser destratada por ele - parei e há poucos meses havia voltado a levar - já que era o jeito possível de fazer os dois se encontrarem.

No entanto, os últimos contatos mostraram que se por um lado confortei meu filho com essa decisão e atitude, por outro acostumei o genitor a não ir vê-lo e esperar pela minha ação (como sempre, aliás). Nos últimos contatos, portanto, tenho evitado levá-lo e obrigar ao menos que ele vá ao encontro da criança, mas não tem dado certo. 

Há 3 semanas foi a última vez que ele viu a criança, que estava doente pedindo pelo pai, que de tarde ainda insistiu que eu levasse a criança (doente e vomitando) até ele, mas com a criança dormindo, não fui. Desta vez, ele passou em casa, brincou meia hora e foi embora causando choradeira e tristeza no Arthur, que não queria que o pai e o irmão fossem embora da casa dele.

Depois, nas outras duas tentativas, ele prometeu ir outro dia e não apareceu. E se assim é, assim será. Diante desta situação que não ajuda, não me agrada e não me interessa manter, eu evitarei o contato para não evitar o sofrimento e a espera do Arthur por algo que não vai acontecer.

Uma das vezes, mesmo ele estando "na rua" insistiu que eu levasse a criança até ele e bati o pé e não fui. Se ele não pode, eu não posso. Chega! Ainda assim, ele prometeu uma visita para dois dias adiante e, pela tarde, me ligou avisando que não ia. Fiz questão de pedir que ele ligasse mais tarde para avisar à criança porque eu não seria a portadora da notícia ruim. Ele não ligou. Por sorte, quando cheguei na escola, o Arthur já estava dormindo e dormiu até o dia seguinte. Na semana passada, ele pediu que o pai fosse buscá-lo na escola. Mais uma vez ele tinha outro compromisso, não podia, não foi e prometeu visita para sábado. Mais uma vez ele não foi e nem ligou. Não sei se, de alguma maneira, Arthur espera por ele. Pelo menos destas duas vezes, ele não perguntou e nem pediu pelo pai na data prometida.

Por sorte da vida e dos acontecimentos, os dias de espera tem sido cheios de atividades fazendo com que meu menino esteja mais ocupado com a sua vida que vive do que com a vida que, aos poucos, tem morrido. Judicialmente, não resolvemos nada. Ele não apareceu na audiência e o Ministério Público quem tem tomado as decisões à revelia e conhecimento dele, o que não ajuda em nada e não resolve de vez a questão.

Depois de um feriado tranquilo no início do mês, eu pensei muito o que faria daqui em diante, afinal a situação até hoje está bastante cômoda para ele e eu continuo com todas as obrigações. E se, por um lado eu já me acostumei, por outro eu tenho me sentido mais incomodada do que antes. Especialmente com os últimos acontecimentos relatados acima. 

Embora eu esteja preferindo adotar a postura de me distanciar e não mais incentivar e/ou estimular o contato entre pai e filho - diante das tratativas do pai, que foge à responsabilidade e é omisso e imprudente com a criança - também pensei muito em ser mais reativa às ações dele. Se até hoje me mantive o mais quieta possível, sem reagir às suas negativas, ultimamente minha vontade é gritar, xingar, chamá-lo de irresponsável, brigar e fazer com que ele entenda que esse comportamento dele me irrita, me faz odiá-lo, me enoja e faz eu só me arrepender de um dia ter me casado com ele e ter tido um filho com ele. 

Juro! Ando muito revoltada com o que ele tem feito ao meu filho e cansei de ser passiva com esta situação. Quero, mais do que nunca, tomar minha posição de ataque ou defesa, sei lá, mas tomar posição. Aliás, queria que esta atitude fosse não só minha, mas das outras pessoas que se incomodam com a forma como ele tem tratado o filho diante da separação. Queria que todos que o conhecem e não concordam manifestassem sua repulsa contra as atitudes dele, contra ele. Porque se mesmo assim ele não notasse o quão ruim é o que ele faz, eu pelo menos estaria vingada. Não por mim, mas pelo meu filho.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Troca de corda

Feliz da vida para trocar a corda da capoeira
Sábado foi dia de trocar a corda da capoeira. Ele estava feliz e ansioso. Há semanas esperávamos pelo acontecimento. Eu achei que ele não fosse jogar, pois em uma das apresentações anteriores ele desistiu pouco antes. Nos atrasamos e ele entrou na roda assim que chegamos. Alguns amigos já tinham jogado, outros estavam na roda. Pedi que ele se juntasse aos amigos que iam jogar e lá foi ele.

Quando estava bem perto dele jogar, pararam a roda e perguntaram quem ainda não tinha jogado. Ele levantou a mão e, felizmente, colocaram na outra ponta do círculo uma colega de sala. E então ele jogou. [MÃE CORUJA MODE ON] Cheio de gingado, ele jogou e fez o que ele sabia. Fez uma meia lua linda por cima da amiga, que é bem maior do que ele. A mãe filmou e babou. Vibrei. Me surpreendi com um menino que não se intimidou nem com a plateia grande e nem com a apresentação. [MÃE CORUJA MODE OFF].

Ele estava mesmo animado. Ao todo, jogou três vezes. A primeira ainda em uma sala, já que o dia tinha amanhecido chovendo. Na praça da escola, depois que a chuva parou, junto com os capoeiristas fantasiados de super heróis e, por último, para trocar a corda. Nem todas as crianças jogaram três vezes. A maioria jogou entre uma e duas - ainda na sala e para a troca da corda. Os mais desenvoltos e os maiores, jogaram três.

Crianças com a liga da justiça!
Quando os professores/monitores/mestres apareceram fantasiados, eles começaram a cantar uma das músicas da capoeira que diz: "A liga da justiça chegou / chegou de uma maneira bem legal / chegou para salvar nosso planeta / na ginga e no toque do berimbau (...)". Foi bem divertido. Ele pediu pra jogar com a mulher gata e de pronto deixaram. Ele adorou. Depois, fizeram mais uma roda para graduar. Depois de jogar, cada criança recebia a corda nova. Ele recebeu a corda de ponta amarela.

Jogando com a mulher-gata
Jogando com a mulher-gata
Jogando para trocar a corda
Antes de trocar de corda
Com a corda nova!
Exibindo a corda nova!

E de repente vi meu menino ali, crescido, independente, sendo o que queria ser, fazendo o que queria fazer, sem medo, sem vergonha, cheio de vontade. E fiquei feliz e orgulhosa. E torcendo para que ele continue assim enfrentando e fazendo o que quer e o que gosta.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sobre morte: pais, filhos e irmãos

Já escrevi algumas vezes da vontade que tinha de dar um irmão ao Arthur. Ou melhor, já falei da vontade que eu tinha de ter dois filhos na vida. Mas aí, veio a roda viva e levou tudo pra lá.

Sim, quando a realidade bateu à minha porta eu revi meus sonhos e coloquei dois pés no chão. Não dava para ter dois filhos daquela maneira de viver - agora não vou entrar nestes detalhes pois para hoje não interessa.

Frequentemente Arthur me pede irmãos, me matando um pouco por dentro é bem verdade. Afinal, quem tem irmãos sabe o quão isso é bom na vida. É bem verdade que eu tenho muitos, mas amor, relação e apego entre irmãos é como entre amigos: tem que ter empatia e convivência se não é mero laço de sangue e nada mais. E sei bem o que digo. Afinal, meus irmãos são aqueles com os quais eu divido lembranças, construí minha história e não todos com os quais tenho pai ou mãe em comum. Ser irmão é muito mais do que nascer do mesmo pai e da mesma mãe.

Há alguns dias, eu li um texto (neste mundo digital ainda não encontrei, mas estou procurando para dar crédito e colocar o link - então se alguém também leu e sabe onde, me conta por favor) de uma pessoa que tratava da morte dos pais e de como lidava com aquilo. Agora, não lembro ao certo se era ela quem não tinha irmãos para dividir a dor ou se o filho único que não teria quando a morte dela acontecesse. Bom, honestamente, eu nunca tinha pensado por este olhar e ele me tocou muito. Pensei que triste seria quando eu morresse se o Arthur não tivesse um irmão para dividir a dor da morte da mãe e que entenderia aquela dor na mesma proporção.

Hoje a tal vida irônica me colocou diante desta exata situação. O pai de um amigo de trabalho faleceu. Ele é filho único. Os pais também são/eram. A mãe do pai é viva e para piorar tudo perdeu seu único filho. Ele estava com a mãe para consolá-lo, que já era separada do pai há alguns anos. Ele estava com a namorada e alguns amigos para apoiá-lo, mas ninguém ali sentia na mesma proporção que ele. Ninguém tem as mesmas lembranças e o mesmo amor e, apesar de estar cercado de pessoas e certamente de amor e amparo, ele estava sozinho e enfrentará esta dor sozinho. Sem ninguém que compartilhe dela ou que sinta o mesmo. Isso realmente me arrasou. Isso me fez pensar que sim, um dia, eu precise mesmo dar o irmão ou irmã que o Arthur tanto me pede.

Um velório e um enterro sempre nos colocam diante das nossas fraquezas e da nossa limitação humana. Da nossa pequenez e nos faz pensar no que realmente importa na vida. Mas hoje, em uma soma de todos os últimos acontecimentos, ele me fez pensar no meu filho e no quão importante seria em ele ter um irmão. Por hoje, impactada com tudo isso, eu só desejo um dia realizar essa vontade dele, que também já foi minha.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Dormindo na casa do amiguinho

E esse dia, finalmente, chegou! Há tempos ele me cobra, há tempos ele quer, há tempo os amigos ensaiam. Há tempos, eu resisto.

Até sexta-feira passada, quando a mãe do amigo dele me enviou uma mensagem no meio do dia, convidando-o. Eu me dividi: deixar porque ele quer ou adiar um pouco mais?

É fato que ele dorme fora de casa e sem mim há muito tempo: desde que ele tinha 1 ano e meio. Agora em agosto, inclusive, fez 3 anos que ele ficou sem mim pela primeira vez, quando fui viajar a trabalho sem ele. Mas sempre na casa da avó, que ele frequenta desde que nasceu. Tudo bem que ele já dormiu duas vezes na escola, mas é um lugar que ele frequenta e fica mais do que em casa.

Coincidentemente, uns dias antes havia comentado com ele que estava chegando a noitada da escola - que é em outubro - e ele estava todo animado com a notícia de dormir (de novo) na escola, com os amigos.

Ele nem liga de ficar sem mim. Ele não se importa de dormir fora de casa. Eu estava reticente porque ele estava com tosse e tinha tossido as noites passadas inteiras. Mas concordei, condicionando apenas a ver como ele estava da gripe e da tosse no final do dia.

Quando cheguei na escola, ele estava choroso porque um amigo tinha acabado de machucar ele (rendeu até um roxo no rosto, depois). Mas, assim que ele me viu, ele veio correndo me pedindo pra dormir na casa do amigo. Cedi. Concordei. E de lá mesmo ele saiu sem mim, em outro carro, com o destino da casa do amigo. Eu fui para casa buscar as coisas dele. Ele feliz, eu, em pedaços chorando pelo meu menino que cresceu e é independente. 

Eu pensando em quanto é dicotômico ser mãe. Ao mesmo tempo que eu estava feliz e morrendo de orgulho da independência dele, me senti preterida, sofrida e abandonada. Em plena sexta-feira, eu me senti dispensada pelo meu próprio filho. Tá, exagero meu, mas foi estranho. Lágrimas correram (poucas é verdade, mas rolou) enquanto voltava para casa para pegar as coisas dele e deixar na casa do amigo. 

Estava meio perdida, sem saber direito o que pegar. Perdida a ponto de esquecer a mamadeira e o leite (que ele toma de soja). Tive que voltar em casa, pegar mamadeira e leite, e voltar lá. Perdida a ponto de desperdiçar a sexta-feira sozinha ficando em casa, sozinha, assistindo um filme e comendo brigadeiro de colher. Não aproveitei nem para sair sem filho, que é tão bom.

No final, ele passou a noite bem. E eu também. E, de manhã, nos reencontramos para que ele fosse cortar o cabelo. E, em mim, só restou o orgulho de ver o quanto meu menino é feliz e independente. A partir de agora, estas atividades não serão mais um bicho de sete cabeças nem para ele e nem para mim!

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A cama compartilhada que virou cama dividida

Nunca consegui aderir a cama compartilhada. Com o filho na cama, nunca consegui dormir bem. A sorte era que o filho também nunca gostou e sempre preferiu dormir em sua própria cama/berço. Prestou atenção? Sim, ERA. Passado.

Depois que me separei (e já tá fazendo mais de 10 meses), a cama - que é queen e para dois seres pequenos como eu e ele é grande o suficiente e ainda sobra espaço - ganhou um espaço vazio e meu menino esperto passou a usá-lo com bastante frequência.

A verdade é que somam-se muitas coisas a esse fato.

1º: Após a separação, fiquei alojada na casa da minha mãe, dividindo o sofá da sala de tevê com ele por duas semanas. Desconfortável nível máximo, mas era o que tínhamos para o momento e nos adaptamos. E ele se acostumou a dormir comigo.

2º: Na volta para casa, e ainda com a vida de pernas para o ar, continuamos a dormir juntos na minha cama em um consolo mútuo e para minha óbvia comodidade de colocá-lo na cama e dormir (apagar para falar a verdade) junto com ao mesmo tempo que ele.

Crianças são espertas e se acostumam. Aliás, todos nós nos acostumamos, não é verdade? Ainda mais com coisa boa. E com o tempo ele aderiu ao lado vazio da cama e tomou para si. Mas a verdade é que tem noites que ele dorme colado em mim - mesmo com muito espaço na cama sobrando - e isso me incomoda porque não consigo dormir.

A vida até já impôs o nosso ritmo próprio, com nossos horários e tudo mais. Mas a tal da cama compartilhada passou a ser cama dividida diariamente. E eu passei a querer voltar ao que tínhamos antes. Combinamos, a princípio, que ele voltaria para a cama dele. No entanto, ele dorme na cama dele e, pela madrugada, corre para minha por todo e qualquer motivo ou até por motivo nenhum. Se ele acorda, vai para lá para voltar a dormir. Se ele levanta para fazer xixi, ele volta para dormir na minha cama. Se ele sente frio, ele corre pra lá. Enfim, motivos para ele correr para lá não faltam.

Li, recentemente, uma matéria na internet que dizia que devia levar ele de volta para a cama dele de madrugada. Mas, como fazer isso se, na maioria das vezes, eu nem vejo ele chegar?

Já conversei em mudarmos a decoração do quarto dele de uma jeito que ele goste e queira/incentive ele permanecer lá, mas por enquanto não dá financeiramente para fazer nada. Nem pintar a parede. Então, é uma opção fora de ordem. No começo da semana conversamos mais uma vez e, por enquanto, deu certo.

Há duas noites que ele não vai para minha cama. Noite retrasada ele me chamou para lá e eu, cheia de coragem, fui para mantê-lo em sua cama. Esta noite, mesmo com acesso de tosse, ele também ficou lá. Eu fui até ele, passei vick, dei xarope, deitei junto até ele se acalmar e voltar a dormir. Por enquanto deu certo. E espero que, aos poucos, ele volte a dormir na caminha dele por todos os dias e por toda a noite.


terça-feira, 25 de agosto de 2015

Tinha uma suástica no meio do caminho

Sábado de manhã saímos para comprar carne no supermercado. Fomos a pé. Logo na esquina de casa, em frente a um bar que frequentamos com assiduidade, de longe notei umas pedras no meio do caminho. As mesmas pedras que formam a calçada.

Ao me aproximar, consegui enxergar que as pedras formavam uma suástica. Ao passar por ali, com meu filho que não entende nada do mundo, me senti agredida e resolvi desfazer o símbolo que estava assim tão perto da nossa casa, tão próxima do nosso mundo.

É um símbolo e é evidente também que não vai dar para afastar de perto dele (e nem mesmo de mim) todas as coisas ruins para sempre. Mas - naquele momento - me senti na obrigação.

Ele, claro, ficou curioso em saber o motivo de eu chutar as pedras para desmanchar o que estava feito que ele, até então, nem tinha reparado ao certo e que forma tinha. 

Então, expliquei, de forma menos profunda e mais direta possível que ali estava formada uma suástica. E que aquele era um símbolo que representava o nazismo, onde muita gente matou muitas pessoas porque elas eram judias, porque tinham outra religião, outra forma de viver e pensar.

Ele ficou um pouco impactado em saber que pessoas tinham matado pessoas. E desatou a dizer que não podia matar as pessoas, que era triste fazer aquilo, que era errado e que as pessoas que tinham matado eram maus. E então me sugeriu como ele tem feito com frequência: tendo uma ideia.

Desta vez, sua ideia era com que nós nos transformássemos em super heróis que faziam as pessoas que foram mortas reviverem. Uma ideia linda e que eu queria muito que pudesse muito ser um super poder possível, mas entramos em outra profunda discussão de que este poder é apenas do Papai do Céu e que a gente não podia fazer aquilo, por melhor que fosse nossa intenção. Então, a conversa se estendeu e se desenrolou em o poder de Deus, dos médicos e das pessoas. Uma coisa puxando a outra conforme a curiosidade dele avançava ou recuava ou até tomava um caminho totalmente improvável.

Em um caminho de menos de 3 quadras falamos de tantas coisas naquela perspectiva infantil que me espantou. Especialmente porque ao chegar finalmente no supermercado, ele esqueceu toda a conversa e seguiu em direção aos carrinhos que tem o mesmo tamanho que ele e saiu empurrando, pronto para fazer compras e não mais discutir nada sobre mais nada.

Afinal, com 4 anos tudo parece e é tão efêmero que não merece durar mais que alguns passos.