segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Troca de corda

Feliz da vida para trocar a corda da capoeira
Sábado foi dia de trocar a corda da capoeira. Ele estava feliz e ansioso. Há semanas esperávamos pelo acontecimento. Eu achei que ele não fosse jogar, pois em uma das apresentações anteriores ele desistiu pouco antes. Nos atrasamos e ele entrou na roda assim que chegamos. Alguns amigos já tinham jogado, outros estavam na roda. Pedi que ele se juntasse aos amigos que iam jogar e lá foi ele.

Quando estava bem perto dele jogar, pararam a roda e perguntaram quem ainda não tinha jogado. Ele levantou a mão e, felizmente, colocaram na outra ponta do círculo uma colega de sala. E então ele jogou. [MÃE CORUJA MODE ON] Cheio de gingado, ele jogou e fez o que ele sabia. Fez uma meia lua linda por cima da amiga, que é bem maior do que ele. A mãe filmou e babou. Vibrei. Me surpreendi com um menino que não se intimidou nem com a plateia grande e nem com a apresentação. [MÃE CORUJA MODE OFF].

Ele estava mesmo animado. Ao todo, jogou três vezes. A primeira ainda em uma sala, já que o dia tinha amanhecido chovendo. Na praça da escola, depois que a chuva parou, junto com os capoeiristas fantasiados de super heróis e, por último, para trocar a corda. Nem todas as crianças jogaram três vezes. A maioria jogou entre uma e duas - ainda na sala e para a troca da corda. Os mais desenvoltos e os maiores, jogaram três.

Crianças com a liga da justiça!
Quando os professores/monitores/mestres apareceram fantasiados, eles começaram a cantar uma das músicas da capoeira que diz: "A liga da justiça chegou / chegou de uma maneira bem legal / chegou para salvar nosso planeta / na ginga e no toque do berimbau (...)". Foi bem divertido. Ele pediu pra jogar com a mulher gata e de pronto deixaram. Ele adorou. Depois, fizeram mais uma roda para graduar. Depois de jogar, cada criança recebia a corda nova. Ele recebeu a corda de ponta amarela.

Jogando com a mulher-gata
Jogando com a mulher-gata
Jogando para trocar a corda
Antes de trocar de corda
Com a corda nova!
Exibindo a corda nova!

E de repente vi meu menino ali, crescido, independente, sendo o que queria ser, fazendo o que queria fazer, sem medo, sem vergonha, cheio de vontade. E fiquei feliz e orgulhosa. E torcendo para que ele continue assim enfrentando e fazendo o que quer e o que gosta.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sobre morte: pais, filhos e irmãos

Já escrevi algumas vezes da vontade que tinha de dar um irmão ao Arthur. Ou melhor, já falei da vontade que eu tinha de ter dois filhos na vida. Mas aí, veio a roda viva e levou tudo pra lá.

Sim, quando a realidade bateu à minha porta eu revi meus sonhos e coloquei dois pés no chão. Não dava para ter dois filhos daquela maneira de viver - agora não vou entrar nestes detalhes pois para hoje não interessa.

Frequentemente Arthur me pede irmãos, me matando um pouco por dentro é bem verdade. Afinal, quem tem irmãos sabe o quão isso é bom na vida. É bem verdade que eu tenho muitos, mas amor, relação e apego entre irmãos é como entre amigos: tem que ter empatia e convivência se não é mero laço de sangue e nada mais. E sei bem o que digo. Afinal, meus irmãos são aqueles com os quais eu divido lembranças, construí minha história e não todos com os quais tenho pai ou mãe em comum. Ser irmão é muito mais do que nascer do mesmo pai e da mesma mãe.

Há alguns dias, eu li um texto (neste mundo digital ainda não encontrei, mas estou procurando para dar crédito e colocar o link - então se alguém também leu e sabe onde, me conta por favor) de uma pessoa que tratava da morte dos pais e de como lidava com aquilo. Agora, não lembro ao certo se era ela quem não tinha irmãos para dividir a dor ou se o filho único que não teria quando a morte dela acontecesse. Bom, honestamente, eu nunca tinha pensado por este olhar e ele me tocou muito. Pensei que triste seria quando eu morresse se o Arthur não tivesse um irmão para dividir a dor da morte da mãe e que entenderia aquela dor na mesma proporção.

Hoje a tal vida irônica me colocou diante desta exata situação. O pai de um amigo de trabalho faleceu. Ele é filho único. Os pais também são/eram. A mãe do pai é viva e para piorar tudo perdeu seu único filho. Ele estava com a mãe para consolá-lo, que já era separada do pai há alguns anos. Ele estava com a namorada e alguns amigos para apoiá-lo, mas ninguém ali sentia na mesma proporção que ele. Ninguém tem as mesmas lembranças e o mesmo amor e, apesar de estar cercado de pessoas e certamente de amor e amparo, ele estava sozinho e enfrentará esta dor sozinho. Sem ninguém que compartilhe dela ou que sinta o mesmo. Isso realmente me arrasou. Isso me fez pensar que sim, um dia, eu precise mesmo dar o irmão ou irmã que o Arthur tanto me pede.

Um velório e um enterro sempre nos colocam diante das nossas fraquezas e da nossa limitação humana. Da nossa pequenez e nos faz pensar no que realmente importa na vida. Mas hoje, em uma soma de todos os últimos acontecimentos, ele me fez pensar no meu filho e no quão importante seria em ele ter um irmão. Por hoje, impactada com tudo isso, eu só desejo um dia realizar essa vontade dele, que também já foi minha.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Dormindo na casa do amiguinho

E esse dia, finalmente, chegou! Há tempos ele me cobra, há tempos ele quer, há tempo os amigos ensaiam. Há tempos, eu resisto.

Até sexta-feira passada, quando a mãe do amigo dele me enviou uma mensagem no meio do dia, convidando-o. Eu me dividi: deixar porque ele quer ou adiar um pouco mais?

É fato que ele dorme fora de casa e sem mim há muito tempo: desde que ele tinha 1 ano e meio. Agora em agosto, inclusive, fez 3 anos que ele ficou sem mim pela primeira vez, quando fui viajar a trabalho sem ele. Mas sempre na casa da avó, que ele frequenta desde que nasceu. Tudo bem que ele já dormiu duas vezes na escola, mas é um lugar que ele frequenta e fica mais do que em casa.

Coincidentemente, uns dias antes havia comentado com ele que estava chegando a noitada da escola - que é em outubro - e ele estava todo animado com a notícia de dormir (de novo) na escola, com os amigos.

Ele nem liga de ficar sem mim. Ele não se importa de dormir fora de casa. Eu estava reticente porque ele estava com tosse e tinha tossido as noites passadas inteiras. Mas concordei, condicionando apenas a ver como ele estava da gripe e da tosse no final do dia.

Quando cheguei na escola, ele estava choroso porque um amigo tinha acabado de machucar ele (rendeu até um roxo no rosto, depois). Mas, assim que ele me viu, ele veio correndo me pedindo pra dormir na casa do amigo. Cedi. Concordei. E de lá mesmo ele saiu sem mim, em outro carro, com o destino da casa do amigo. Eu fui para casa buscar as coisas dele. Ele feliz, eu, em pedaços chorando pelo meu menino que cresceu e é independente. 

Eu pensando em quanto é dicotômico ser mãe. Ao mesmo tempo que eu estava feliz e morrendo de orgulho da independência dele, me senti preterida, sofrida e abandonada. Em plena sexta-feira, eu me senti dispensada pelo meu próprio filho. Tá, exagero meu, mas foi estranho. Lágrimas correram (poucas é verdade, mas rolou) enquanto voltava para casa para pegar as coisas dele e deixar na casa do amigo. 

Estava meio perdida, sem saber direito o que pegar. Perdida a ponto de esquecer a mamadeira e o leite (que ele toma de soja). Tive que voltar em casa, pegar mamadeira e leite, e voltar lá. Perdida a ponto de desperdiçar a sexta-feira sozinha ficando em casa, sozinha, assistindo um filme e comendo brigadeiro de colher. Não aproveitei nem para sair sem filho, que é tão bom.

No final, ele passou a noite bem. E eu também. E, de manhã, nos reencontramos para que ele fosse cortar o cabelo. E, em mim, só restou o orgulho de ver o quanto meu menino é feliz e independente. A partir de agora, estas atividades não serão mais um bicho de sete cabeças nem para ele e nem para mim!

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A cama compartilhada que virou cama dividida

Nunca consegui aderir a cama compartilhada. Com o filho na cama, nunca consegui dormir bem. A sorte era que o filho também nunca gostou e sempre preferiu dormir em sua própria cama/berço. Prestou atenção? Sim, ERA. Passado.

Depois que me separei (e já tá fazendo mais de 10 meses), a cama - que é queen e para dois seres pequenos como eu e ele é grande o suficiente e ainda sobra espaço - ganhou um espaço vazio e meu menino esperto passou a usá-lo com bastante frequência.

A verdade é que somam-se muitas coisas a esse fato.

1º: Após a separação, fiquei alojada na casa da minha mãe, dividindo o sofá da sala de tevê com ele por duas semanas. Desconfortável nível máximo, mas era o que tínhamos para o momento e nos adaptamos. E ele se acostumou a dormir comigo.

2º: Na volta para casa, e ainda com a vida de pernas para o ar, continuamos a dormir juntos na minha cama em um consolo mútuo e para minha óbvia comodidade de colocá-lo na cama e dormir (apagar para falar a verdade) junto com ao mesmo tempo que ele.

Crianças são espertas e se acostumam. Aliás, todos nós nos acostumamos, não é verdade? Ainda mais com coisa boa. E com o tempo ele aderiu ao lado vazio da cama e tomou para si. Mas a verdade é que tem noites que ele dorme colado em mim - mesmo com muito espaço na cama sobrando - e isso me incomoda porque não consigo dormir.

A vida até já impôs o nosso ritmo próprio, com nossos horários e tudo mais. Mas a tal da cama compartilhada passou a ser cama dividida diariamente. E eu passei a querer voltar ao que tínhamos antes. Combinamos, a princípio, que ele voltaria para a cama dele. No entanto, ele dorme na cama dele e, pela madrugada, corre para minha por todo e qualquer motivo ou até por motivo nenhum. Se ele acorda, vai para lá para voltar a dormir. Se ele levanta para fazer xixi, ele volta para dormir na minha cama. Se ele sente frio, ele corre pra lá. Enfim, motivos para ele correr para lá não faltam.

Li, recentemente, uma matéria na internet que dizia que devia levar ele de volta para a cama dele de madrugada. Mas, como fazer isso se, na maioria das vezes, eu nem vejo ele chegar?

Já conversei em mudarmos a decoração do quarto dele de uma jeito que ele goste e queira/incentive ele permanecer lá, mas por enquanto não dá financeiramente para fazer nada. Nem pintar a parede. Então, é uma opção fora de ordem. No começo da semana conversamos mais uma vez e, por enquanto, deu certo.

Há duas noites que ele não vai para minha cama. Noite retrasada ele me chamou para lá e eu, cheia de coragem, fui para mantê-lo em sua cama. Esta noite, mesmo com acesso de tosse, ele também ficou lá. Eu fui até ele, passei vick, dei xarope, deitei junto até ele se acalmar e voltar a dormir. Por enquanto deu certo. E espero que, aos poucos, ele volte a dormir na caminha dele por todos os dias e por toda a noite.