sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Efeito colateral

Nunca achei que Arthur sairia ileso da separação. Sabia que as consequências viriam como um cavalo de tróia, que se instalaria em minha sala desordenando tudo. Depois de tudo que aconteceu, e especialmente como tem acontecido, não poderia ser diferente.

E então ele voltou a dar grandes ataques de fúria ao receber ordens, tem ficado cada vez mais resistente a obedecer, tem dado chiliques, tem batido, tem brigado, tem chorado sem fim.

Ontem, na reunião da escola, soube que o comportamento tem sido o mesmo.

Há semanas o pai não aparece e, nesta semana, ele pela primeira vez contou na escola para os amigos o que estava acontecendo. Contou rindo e recebeu uma desaprovação da professora que disse que isso era assunto do pai e mãe dele e que não era engraçado. Ele emudeceu.

Em casa, conversei novamente com ele. Depois de mais um ataque de não obediência e fúria, conversamos com calma e tranquilidade. Acalmado, coloquei no meu colo e relatei que a professora tinha me contado que ele estava dando muito chilique na escola e não estava obedecendo ninguém. Falei que ficava muito triste em saber disso e ver ele fazer o mesmo em casa. Com toda calma, perguntei: por que você está fazendo isso? A resposta foi óbvia: estou sentindo falta do meu pai. Disse que não havia problema, mas que quando ele sentisse falta do pai deveria me avisar para que pudéssemos ligar para ele. Re-expliquei a separação e perguntei se queria falar com o pai por telefone. Então ligamos. Ele foi enfático com o pai, contou que estava com uma energia (alergia, risos) porque uma formiga picou, conversou um pouco e depois não quis mais falar.

Depois da conversa, o senti mais calmo e sereno. Pronto, então, a obedecer com calma tanto a mim quanto as professoras. Hoje a manhã também foi mais calma. Tenho a promessa do pai de buscá-lo hoje na escola. Para tanto, aguardo. Eu não contei a ele que o pai iria para não gerar nenhuma expectativa e frustá-lo caso ela não aconteça. Sigo tentando ajustar a vida na esperança de que ele, pelo menos ele, sofra menos com tudo isto.

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