sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Dia da tristeza

Tem dias que bate uma tristeza danada. Pode ser um dia lindo de sol como o de hoje, mas o vazio do peito é maior e torna tudo cinza, feio e frio.

Estou em um dia cinza. O dia da tristeza. O dia (raro) que me culpo por tudo e por todos. O dia que eu canso de tudo e não quero nada além de navegar no Pinterest e ficar vendo coisas bonitas para ver se consigo colorir um pouco a alma. O dia em que aquela música me faz chorar e olhar tudo de outro jeito, sob outras perspectivas.

Hoje é o dia que eu devia escrever aquela carta sincera e escrever tudo que realmente penso e sinto. É hoje o dia que eu tenho vontade de ir para casa e não ter responsabilidade nenhuma no trabalho, obrigação nenhuma, tarefa nenhuma, chefe nenhum, colega nenhum.

Hoje é o dia cinza que eu não queria ver meu filho chorar, sofrer e pensar que ele deve estar sentindo uma falta tremenda do pai, que não liga, não vê, não aparece e não quer nem saber. Hoje é o dia cinza que tento, ligo, insisto e mostro (em vão) que ele tem obrigação, responsabilidade e dever de pai, mesmo já tendo tentado e quebrado a cara tantas vezes e tendo prometido que não ia mais tentar porque é sim em vão.

Hoje é meu dia cinza para sofrer pela viagem que virá e vai me afastar por 8 dias seguidos do meu filho, na semana e no dia do seu aniversário. É o dia em que eu já estou desesperada com o prazo que expira e a quantidade de trabalho que se acumula e eu me desespero achando que não vai dar.

Hoje é o dia cinza que vou somar todas as dores de 32 anos e vou querer chorar e morrer um pouco ou que eu desejo ser outro alguém com outras dores e outros amores, que não esses que hoje me tornam assim tão triste e apagada.

Hoje vou viver meu dia triste para quem sabe amanhã, ao amanhecer, ele se torne mais colorido.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Uma manhã na praça e o show de horror

Uma vez já escrevi aqui sobre o quão antropofágico pode ser a experiência em parquinhos e pracinhas com os filhos. Se você estiver disposta a olhar em volta e analisar é surreal o que podemos ver.

Neste final de semana não foi diferente. Com um bloco de carnaval próximo a uma praça que costumamos frequentar, resolvi unir o útil ao agradável. A ideia, claro, era ir ao bloco, mas desta vez o Arthur não se animou muito e preferiu ir à pracinha. Pois bem, lá fomos nós.

Como era de se esperar, a praça estava bem mais cheia que o normal e a experiência foi bastante ruim. Achei triste ver o quanto ainda tem gente que educa gente da forma errada: ensinando a bater ou ignorando a violência, não ensinando a respeitar, não ensinando a cuidar do local em que está.

No final de semana, o que vi foram crianças mal-educadas e pais idem que ora ignoram a deseducação dos filhos ora estimulam comportamentos que deveríamos banir.

Primeiro foi a cena em que um menino, do alto da casinha de madeira do escorregador e que é bastante alta, começa a bater em outro. A mãe do que bate nem o repreende e fica, de baixo, apenas olhando. Já a mãe do que apanha incentiva seu filho a revidar. Fiquei simplesmente chocada. Uma porque se omite, a outra porque incentiva a violência. Vendo um bater e outro apanhar, um terceiro se junta e começa a bater também. E mais uma mãe se omite e finge que não está vendo nada enquanto a mãe do que apanha incentiva ainda mais que o filho revide. Fiquei olhando estarrecida. A cena durou pouco tempo, no entanto, o primeiro que batia seguiu muito tempo batendo em outras crianças que subiam na casinha para escorregar. Os outros saíram, mas a cena se repetia com toda e qualquer criança que subisse. Um verdadeiro show de horror.

Depois, diversas crianças queriam furar a fila para subir na casinha e escorregar e muitos pais e mães ajudavam a eles furar a fila. Eu, muito da sem papas-na-língua, fui a primeira a dizer a filhos e pais que havia fila e que a criança devia seguir para o final. Quem sabe assim educamos pais e filhos de uma vez só, não é mesmo? 

Esse era o objetivo: choque-de-realidade e de educação a quem não quer ter e prefere não só ser sem educação, mas insiste em permitir que crianças repitam e perpetuem esse comportamento. Simplesmente inaceitável e inacreditável que isso aconteça em plena luz do dia, em um local familiar, com crianças por perto e em pleno século XXI. Ah, e isso não foi nem perto da periferia onde costumam dizer que as pessoas não tem educação. Não, bairro nobre da cidade de São Paulo. Depois acham que sem educação é quem é pobre. Honestamente, foi decepcionante vivenciar esta experiência.

Enquanto eu via e analisava tudo isso, muito provavelmente meu filho nem entendia a dimensão de tudo. No entanto, respeitou as filas; apanhou, chorou sem revidar e saiu de perto; brincou e se divertiu como sempre fazemos e ainda esteve na companhia de alguns amigos da escola. Sigo firme nos propósitos de ensiná-lo a ser sempre melhor: a não bater e nem mesmo revidar quando apanha (mas chamar algum adulto para que resolva a situação), não furar filas e respeitar a vez de cada um, brincar e se divertir porque é isso que importa. E seguimos juntos tentando ensinar essa missão na vida, que nem sempre é fácil, convenhamos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Ocupando o espaço público

Brincando no bloco de carnaval que passou perto de casa
Gostamos muito de ir à pracinha. Costumamos, com frequência, ocupar o espaço público e fazer um bom uso dele. Eu quero, assim, mostrar a ele que a rua é também a nossa casa. Que a praça, a praia e os parques são lugares que devemos frequentar, cuidar e respeitar porque é nosso, mas é também das outras pessoas.

Ele provavelmente não entende toda essa dimensão de nossa ida à praças e parques, mas certamente já entende que deve respeitar a vez do outro, que não pode jogar lixo no chão e que não se pode destruir nada que está lá, afinal ele vai usar e outras pessoas também.

Geralmente, ele já se zanga (e ainda por cima recolhe) quando encontra lixo deixado por outras pessoas. 

Com o carnaval e a proliferação dos blocos em São Paulo, resolvi levá-lo também aos blocos de carnaval que tem acontecido nas proximidades de casa. Para mim, foi mais uma maneira de mostrá-lo que podemos e devemos ocupar os espaços públicos. Que a rua é de todos e que devemos sim sair para a rua e ocupá-la. Ele tem aproveitado, curtido e vivido tudo isto.

Na semana retrasada, quando fomos ao primeiro bloco, ele adorou. Foi centro das atenções e pôde, além de ocupar o espaço, compartilhar da gentileza das pessoas e crianças que estavam brincando no mesmo bloco. Recebeu confete e serpentina por onde passou, brincou com outras crianças e muitas adultos também fizeram questão de brincar com ele, que se divertiu sendo o Homem de Ferro que derrubava todos pelo caminho. Assim, fica até fácil mostrar a ele como a vida pode ser bacana quando todos tem um mesmo propósito ao ocupar o espaço público, mas nem sempre é assim. No último final de semana, por exemplo, tivemos muitos problemas ao repetir a experiência em um bloco destinado ao público infantil (mas esse post vem amanhã porque hoje eu quero falar apenas da boa experiência), mas assim também aprendemos a conviver com quem ainda não sabe respeitar o próximo e aprendemos com todas as situações que existem nesta vida.

Educar e fazer um mundo diferente, para mim, passa por estas pequenas coisas que, invariavelmente, vão um dia refletir na vida dele. E que assim seja. Pouco a pouco. Com pequenos gestos e coisas simples para fazer do futuro um lugar melhor, mais amável, com mais respeito por si, pelo outro e pelo mundo no qual vivemos. E que assim seja.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Volta às aulas (e eu querendo a minha rotina de volta também!)

Não sei se ele estava mais ansioso do que eu para conhecer a professora nova, mas sei que saiu todo alegre e feliz para o primeiro dia de aula.

Eu, sábado, já tinha conhecido as novas professoras na reunião escolar, mas sabia quanta expectativa ele estava nutrindo por este dia. Há duas semanas, de tanto ele me pedir para ir à escola e perguntar se as férias dele e dos amigos já tinha acabado, o levei para passar um dia no curso de férias. A ideia era retornar também na semana passada, mas aí ele ficou com um mega resfriado e com febre a semana quase inteira (foi melhorar só na sexta-feira) e a volta às aulas ficaram condicionadas mesmo para hoje.

Ele, claro, deu seu piti habitual para sair da cama, me obedecer e se deixar vestir. Mas depois acabou cedendo, se levantando e até me ajudando. A alegria era tanta que ele vestiu a lancheira nas costas e queria ainda puxar a mala, mas a mãe exagerou na lancheira (sério, mandei: danone, duas bananas, duas bisnaguinhas com requeijão, cereais, gelatina e suco) e estava tão pesada que ele reclamou e pendurou na mochila para sair carregando as duas.

Eu fiquei feliz de vê-lo tão contente de ir para a escola seja para "estudar" seja para rever os amigos. Feliz e com um sentimento de que acertei a mão. Lembro que o um ano e meio que ele ficou na outra escola ele nunca teve este sentimento de pertencimento e de querer ir, de querer estar lá; coisa que acontece bastante com essa escola, que ele está desde o ano passado. Eu, na verdade, fico feliz porque sempre "namorei" aquela escola e vejo nas propostas deles coisas que me encantam muito para além da educação infantil, mas para propostas concretas de pensar e agir democrático. Eu quero sim tirá-lo de lá na época da alfabetização e passá-lo para uma escola grande de verdade para que ele aprenda a se virar, mas juro que tenho repensado cada vez mais esta intenção.

Agora, com a volta às aulas eu também espero conseguir retomar a minha rotina, que está perdida desde a separação em outubro. Primeiro foram algumas semanas fora de casa, que desajustaram tudo. Depois, foi a retomada de tudo definitivamente meu, o que me fez ficar bastante desnorteada e sem conseguir me acertar com a hora, principalmente com a rotina noturna, a hora de dormir e de dar conta de tudo. Mas, afinal, era novembro, as férias logo viriam e tudo ia mesmo sair da rotina, então, deixei.

As férias me mostraram que meu filho tem infinitamente mais pique do que eu: acordava cedo, brincava o dia inteiro sem o cochilo diário e ainda ia dormir tão tarde quanto eu. Ou seja, sem hora para dormir e assim foram-se dois meses de férias. Estamos indo dormir todos os dias perto das 23h, o que me deixa cansada, irritada e sem conseguir dar conta de tudo e menos ainda de mim. Ele me esgota, me cansa, me irrita. Resultado: vamos os dois dormir na minha cama e eu invariavelmente acabo dormindo antes que ele, que ainda tem pique para pedir mil desenhos e fazer mais duas mil brincadeiras. Com a volta às aulas, eu quero retomar a vida de conseguir voltar para casa logo já que nas férias, como ele ficava na casa da avó e eu só conseguia sair de lá com ele amigavelmente perto das 20h eu não conseguia colocar ele na cama no horário normal, pois ele tinha muitas vezes acabado de acordar da soneca que ia até 18h ou 19h. Quero, a partir de hoje, colocar as coisas em ordem, fazer ele ir para a cama dele no horário convencional das 20h45 e, claro, ter pelo menos meia hora do dia para mim.

Vamos, com calma e aos poucos, voltando à rotina. Ele já voltou às aulas, agora falta ajustarmos a rotina e retomarmos mais um ano com muitas atividades - tanto para mim quanto para ele.