quarta-feira, 2 de julho de 2014

Da educação que eu prefiro dar

Nem sempre é fácil, mas optei por:

Não colocar travas nas gavetas e nas portas, mesmo que eu tenha que repetir um milhão de vezes que não pode mexer ali ou então ter que me sujeitar a ver panelas espalhadas pelo chão da casa e da cozinha;

Não cercear seu ir e vir, por isso a cozinha sempre foi um local em que ele teve acesso, assim como o banheiro, o meu quarto, a varanda e todos os cômodos da casa mesmo que isso implique em vigilância eterna para que não beba a água da privada ou que suba na cadeira da varanda porque assim ele aprende a transitar e sabe o que pode e o que não pode com ou sem a mamãe por perto;

Não permitir pular no sofá ou colocar os pés com sapatos, mesmo que com isso eu tenha meias mais sujas e uma criança que mesmo na casa dos outros anda sem sapatos porque sabe que não pode e não deve colocar os sapatos no sofá;

Deixar brinquedos e livros sempre a mão, mesmo que eu tenha que recolhê-los muitas vezes ou eles acabem quebrados ou amassados e rasgados porque ele pode escolher com o que brincar, que livro ler e como vai ocupar o espaço da casa;

Ensinar que rosa também é cor de menino e azul também é cor de menina, mesmo que na escola alguém diga para ele que rosa é de meninas e que eu contrarie o pai e tudo o mais porque ele poderá viver com a ideia de que o mundo não precisa ser dividido pelo sexo dele e dos outros e quem sabe, um dia, vai achar que todo mundo é igual e pode ser livre para optar por qualquer cor, por exercer qualquer profissão e simplesmente ser feliz porque não são estas coisas que importam;

Devolver muitas perguntas que ele me faz, mesmo que isso implique em responder muitas outras ou ficar instigando ele por muito tempo porque assim ele saberá que nem todas as respostas estão prontas e que ele vai ter que correr atrás das respostas que melhor se enquadram para ele e para o momento;

Não amedrontá-lo com o lobo das estórias ou os monstros e bichos papões, mesmo que isso me dê muito mais trabalho para segurá-lo por perto ou para que ele faça algo porque assim ele vai saber que não é preciso temer o imaginário e sim as coisas reais.

Nem sempre é fácil, mas quem disse que é fácil educar? Educar é fazer escolhas o tempo todo, mas não se engane você que a escolha é simples afinal ela é recheada de consequências. Ah, amigo, essas consequências você pode até pensar que não estão ligadas a você, mas digo que podem sim se reverter contra ti e de uma forma muito perversa. 

Apesar disso tudo, muitas escolhas não são apenas escolhas porque elas vão ser, em algum momento, melhores para ele e para mim, mas minhas escolhas são baseadas puramente no que eu acredito para mim, no que eu defendo e pratico na minha vida. Porque aí, eu digo, não são escolhas para ele, são escolhas para todos: eu, você, ele, os amigos dele e todo mundo que um dia cruzar no caminho dele. Afinal, ele não é criado em uma bolha e nem vai viver para sempre em um local protegido, cercado e vigiado pela mamãe, que diz o que pode e o que não pode. Assim eu crio ele, para o mundo e por um mundo melhor.


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