sábado, 10 de agosto de 2013

Meu mundo de filha

Amanhã é dia dos pais e, por isso, eu resolvi escrever para você sobre o meu e as lembranças que tenho dele na minha infância.

Eu não sei que relação você terá, no futuro, com seu avô, mas gostaria de te contar como ele é para mim e, especialmente, como ele foi para mim na infância.

Sei que hoje você tem medo do seu avô, mas acho compreensível afinal o jeito próprio dele não é lá cordial e nem amável, mas entenda que isso não é falta de amor e pode ser até excesso de (afinal, você é ainda o único neto dele e é inegável o quanto ele gosta de crianças). Na verdade, o seu avô materno é um fanfarrão.

Não vi e nem vivi todas as histórias que sei dele, mas elas poderão exemplificar o que estou te dizendo e também são estas histórias que compõem o quebra-cabeça que monta seu avô no meu coração e na minha vida.

Então, senta que lá vem histórias:

* Uma vez, há muitos anos atrás quando eu devia ter o teu tamanho mais ou menos, ele colou uma moeda no chão logo entrada do prédio só para se divertir com as pessoas tentando pegá-la.

* Seu avô sempre gostou muito de criar brincadeiras com dinheiro e as preferidas eram esconder dinheiro para que encontrássemos. Os críticos de plantão vão dizer que isso é uma barbaridade, mas confesso que isso nunca interferiu no juízo de valor que faço de dinheiro ou de brincadeiras. Inegavelmente estas brincadeiras estão gravadas na minha memória e eram uma festa (não pelo dinheiro, mas por brincar de encontrá-lo e ter a participação do seu avô, que nunca foi muito envolvido nas nossas brincadeiras).

* Quantas vezes na vida eu saí com ele para tomar um guaraná? Não tenho a mínima ideia, mas era a forma que ele nos chamava para o acompanhar a um barzinho ou restaurante. Era o nosso passeio: sair para tomar um guaraná. O final do passeio era sempre chato porque a gente era criança e não aguentava mais ficar naquele bar só tomando guaraná enquanto ele tomava a cerveja dele, mas como a memória é uma traiçoeira não me lembro de nada massante de nossos passeios. Me lembro apenas de sair com ele para o tal guaraná, que invariavelmente acompanhavam uma batata-frita ou um sorvete, que era para nos entreter por mais tempo até que ele quisesse realmente ir embora.

* Teu avô adora dar sustos, então isso não é privilégio seu. Quando ele chegava em casa, ele abria a porta fazendo "PEI" bem alto lá na porta e depois seguia batendo com a palma da mão na porta de cada cômodo repetindo o cumprimento, ou susto como preferir: "PEI, PEI."

* Uma vez estávamos assistindo a um filme no quarto. Eu não consigo me lembrar que filme era, se era de susto ou ET, mas lembro que estávamos todos no quarto: alguns na cama, outros no chão em frente a TV e a luz estava apagada como numa sessão de cinema e era noite. Seu avô saiu da cama e se dirigiu até a cozinha para molhar o rosto e colocar pó de café só para voltar no cômodo escuro e assustar todo mundo. Não disse que ele gosta de dar susto?

* Além dos tapas na porta e os "PEI" da vida, outra marca registrada do seu avô é a pergunta: Que mais? Ouvimos isso milhões de vezes na vida e várias delas foram em um mesmo dia. É o jeito dele puxar papo, espero que você possa ouvir muitos 'que mais?' na sua vida.

* Outra característica do meu pai é que ele não é afeito a beijos e abraços. Ele não é carinhoso embora adore crianças, goste de pegá-las no colo e beijá-las. Se nós não o beijarmos provavelmente ele nos cumprimentará com um aperto de mão. Com você ele tenta ser amoroso como é com as outras crianças, mas você tem medo dele por causa dos sustos que ele gosta de dar, então você geralmente foge dele e vê-los juntos é quase uma cena rara.

Cena rara: vocês dois juntos! Foto: Fernanda Petelinkar

* Embora goste de crianças, seu avô tem medo de segurar bebês. Assim que você nasceu ele veio te ver, mas não quis de jeito nenhum te segurar. O único jeito que conseguimos fazer isso foi colocando você em cima dele quando ele estava deitado e dormindo.

Enfim, estas foram algumas coisas que reuni para te contar e para homenagear o meu pai pelo dia de amanhã, que é dia dos pais. Provavelmente estaremos com ele como todos os anos, mas aqui fica registrado minha homenagem a ele mesmo que ele nunca leia este texto ou sequer saiba da existência dele.

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